Relatório do Seminário de resistências 2020
O seminário contou com 17 inscrições para participações diretas e contabilizou um público médio de 2 mil pessoas durante a execução das ações abertas de participação livre por meio do instagram. A maior parte dos vídeos foi salvo e está disponível no @casa_das_negas. Os encontros do GT contaram com a participação de 15 pessoas, previamente inscritas e convidados.
GT 1.Empoderamento de mulheres Negras e combate a violência contra mulher
A roda de aquilombamento deste GT ocorreu dia 25 de novembro de 2020, os debatedores foram Taciana Souza, Liana Cavalcante e a convidada Patricia Maria, da rede de mulheres negras.As principais questões levantadas foram:
-ESVAZIAMENTO: Empoderamento a partir de um sentido de não esvaziar essa palavra,empoderamento é mais do que uma marca, uma estética, um discurso vazio. O lugar do empoderamento é quando conseguimos combater as violências que sofremos todos os dias.- Cuidar para não esvaziar a memória das nossas que já se foram
- AMOR: Empoderamento numa dimensão de amor (amor próprio, coletivo, social, relacional, espiritual), o amor como força que nos move, o amor recriando relações entre pessoas pretas, saindo desse lugar do amor que constrói posse onde a mulher é passiva, entender o amor como uma força motriz.Como construímos uma luta pautada no amor?
-VIOLÊNCIAS DIÁRIAS: empoderamento com combate a violência.analisar a violência sofrida por mulheres que protestavam contra o sistema carcerário do ceará. Não assumir somente as lutas dos que estão longe, lutar pelos que estão próximos. são perspectivas de vida e de pessoas que estão morrendo dentro de uma estrutura racial, é importante lutar pela população negra da nossa cidade. O silenciamento da cidade em relação a isso.
- ECONOMIA NEGRA: Empoderar mulheres negras também é combater a pobreza, discutir a economia da população negra. Nós produzimos riqueza para esse país. Não podemos perder a dimensão de valorização da nossa vida.O que estamos produzindo para além dos nossos corpos estendidos no chão?combate a violência a partir do pensamento sobre processos de empobrecimento, fortalecimento da economia de mulheres negras,
- EDUCAÇÃO: empoderamento a partir de uma educação.
- AQUILOMBAMENTOS: Ressaltar a importância de estarmos juntas, a importância de pautar o afeto, auto-cuidado, combater o adoecimento, sobretudo mental da população negra.Entender o empoderamento como um processo cotidiano e constante. Que lugares são importantes estarmos presentes? que lugares fortalecem a nossa luta?
- CUIDADOS: Cultivar o bem -viver. Oque é esse bem viver?
- APAGAMENTOS, SILENCIAMENTOS, DESLEGITIMAÇÃO, HIPER-SEXUALIZAÇÃO em espaços de atuação
Na reunião do Gt foram recordadas as questões da roda de aquilombamento, e apontadas as seguintes colocações:
A necessidade de gerar ações que produzam afeto e sejam pautadas no afeto, onde mulheres negras sejam as protagonistas.
Entender que a construção do quilombo é matriarcal, pensar nas construções pautadas nessa perspectiva.
Pensar em outras maneiras de lidar com a dor e a memória
Aquilombamentos virtuais também são possíveis
Que deslocamentos são precisos para gerir o quilombo
criar ambientes seguros para se expressar
GT 2: Afirmação de negritude e combate ao racismo e a intolerância religiosa
A roda de aquilombamento deste GT ocorreu dia 25 de novembro de 2020, os debatedores foram liana Cavalcante e Deu Vieira, posteriormente contando com a contribuição de Paula Soares que apresentaram suas pesquisas.
as principais questões levantadas foram:
Na reunião do Gt foram recordadas as questões da roda de aquilombamento, e apontadas as seguintes colocações:
Compreender que existem sistemas digitais racistas e que a internet não está livre disso.
Compreender que o argumento da “segurança” é continuamente usado para reafirmar atitudes racistas.
Compreender que os racismos sofridos em ambientes de aprendizagem comprometem a evolução dos aprendizes.
Por isso faz importante:
Estimular que pessoas negras produzam ciência
Estimular que pessoas negras pesquisem
Gerar uma educação anti-racista
apropriar-se do Cyberativismo
Produção de materiais didáticos anti-racistas
Considerar as tecnologias e conhecimentos ancestrais
valorizar cientistas, escritores e criadores de conteudo negros, bem como pessoas negras que geram conhecimento em suas comunidades
criar tecnologias sociais
produzir afro-hackeamentos
garantir o acesso a internet como um direito básico
GT 3: Resistências transgêneras e combate a transfobia e GT 4: Resistências LGBTQ e combate a LGBTfobia
A roda de aquilombamento deste GT ocorreu dia 25 de novembro de 2020, os debatedores foram Dandara Hudsan e Pedra Silva, as principais questões levantadas foram:
OS NÚMEROS SANGRENTOS QUE DEFLAGRAM UM NÚMERO CADA VEZ MAIOR DE MORTES DE PESSOAS TRANS: Não nos custa lembrar que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans! Os números de 2020 apontam que a violência contra pessoas transgênero cresceu, em relação ao ano passado.
QUAIS AS NOSSAS ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA: Compartilhar estrategias de como estamos sobrevivendo, sobretudo em realidades e lugares diferentes nos ajuda a compreender que não estamos sozinhos, e nos ajuda a criar meios de enfrentar as realidades que vivemos.
PONTOS DE DIÁLOGO: A importância de promover diálogos, tal como os que foram propostos pelo seminário de resistência, são muito importantes, sobretudo fazendo com que a internet esteja a nosso favor, nos conectando com outras pessoas LGBTQ que vivem em outros espaços geográficos e afetivos.
EXISTIMOS: A invisibilidade de pessoas trans de diversas realidades, nos terreiros, nos quilombos, nas aldeias, nas periferias, na comunidade rural, nos espaços de trabalho, deixa essas pessoas vulneráveis. è importante afirmar a existência das pessoas trans e de como a mesma contribui com a comunidade que participa.
Na reunião do Gt foram recordadas as questões da roda de aquilombamento, e apontadas as seguintes colocações:
Nós somos!
Combater preconceitos que internalizamos com a gente mesmo
combater a transfobia
modelar minha corpa como eu quiser
representatividade trans na política
Das presentes colocações foram retiradas os seguintes encaminhamentos:
Pensar caminhos de cuidado possíveis a partir da espiritualidade
Ter pessoas trans nas ações
Outra contribuição associada a esse Gt foi feita
GT 5: Cultura e resistência em territórios afro-indígenas
EXISTEM PRODUTORES E PROFISSIONAIS DE CULTURA NA PERIFERIA DE FORTALEZA:
E temos que dizer que nós somos muitos e cumprimos funções variadas. Alguns de nós tem empregos e trabalhos paralelos, outros vivem exclusivamente do fazer artístico. Temos dramaturgos, diretores, atores, sonoplastas, iluminadores, cantores, percussionistas, instrumentistas de um modo geral, bailarinos, dançarinos, brincantes, dentre uma variedade de possibilidades. A invisibilização de nossa atuação precariza a nossa existência.
A MAIOR PARTE DAS PESSOAS FAZEDORAS DE CULTURA NAS PERIFERIAS SÃO PESSOAS NEGRES.
A maior parte dos moradores da periféria de Fortaleza são negros. Essa organização foi imposta pelos escravocratas, depois pela burguesia e posteriormente pelas classes médias e altas, que historicamente busca nos empurrar cada vez mais para as margens.
TEMOS DIREITO A TER ACESSO A FORMAÇÃO
Muitos de nós têm vivido a saga de ter que sair do seu lugar para conseguir formação nos centros. Sim! Também é nosso direito circular nos centros culturais sem sofrer racismo. Mas também precisamos que as formações possam alcançar os nossos territórios e dialoguem com eles.
NÓS SOMOS TOTALMENTE CAPAZES DE REALIZAR OS NOSSOS TRABALHOS:
OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
O racismo faz com que sejamos constantemente questionados sobre a qualidade de nossos trabalhos.
NOSSOS TERRITÓRIOS TEM PÚBLICO!
Nossas comunidades e territórios tem necessidade de ações culturais e artísticas.
AS FAZEDORAS DE CULTURA NEGRAS DA PERIFERIA ESTÃO CANSADAS DE SEREM, OBJETIFICADAS, HIPER SEXUALIZADAS.
NOSSOS TRABALHO REFLETEM NOSSA VIVÊNCIA DE MUNDO
TEMOS NECESSIDADE DE ESPAÇOS FÍSICOS E POLÍTICOS
É preciso que os espaços de construção da política cultural ouçam os artistas negres e periféricos para que de fato haja uma construção de política cultural para a cidade.
RESPEITO AOS SARAUS
Os espaços de saraus são muito importantes para nós enquanto artistas e produtores culturais e para nossos públicos, no entanto são continuamente marginalizados, é preciso que haja uma política que defenda e garanta a existência e permanência dos saraus.
SOMOS AGENTES ATIVOS DE NOSSOS TERRITÓRIOS
ESTAMOS FAZENDO COM NOSSOS RECURSOS UM TRABALHO QUE DEVERIA SER FEITO PELO ESTADO, NÃO PORQUE NÃO PRECISAMOS DO RECURSO FINANCEIRO,
MAS PORQUE ACREDITAMOS EM NOSSOS TERRITÓRIOS,
porém a nossa movimentação independente não deve ser usada de desculpa para falta de investimento em nosso trabalho. Não vamos desistir de nossos territórios, mas não abriremos mão de sermos tratados com o respeito devido a qualquer profissional
da cultura.
NÃO ESTAMOS NO CIRCUITO DE ACESSO A RECURSOS PORQUE HÁ UMA ESTRUTURA RACISTA QUE NOS EXCLUI
Não é falta de esforço! Estamos trabalhando diariamente, falta que a cidade tenha vontade de pensar política cultural para todos os pólos da cidade. Artistas da periferia e do interior
tem que ser ouvidos para construção de uma política e de uma economia cultural plural.
NOSSAS ARTES SÃO CRIMINALIZADAS E MARGINALIZADAS
O tratamento negligente que recebemos dos gestores e organizações do eixo central da cultura da cidade de Fortaleza, faz com que estejamos expostos à marginalização, criminalização e vulnerabilidade.
A POLÍTICA DE EDITAIS NÃO TÊM ATENDIDO A MAIOR PARTE DOS PRODUTORES CULTURAIS DOS TERRITÓRIOS PERIFÉRICOS
A periferia e o interior são espaços geográficos e demográficos maiores do que o eixo central de atuação, considerado eixo cultural da cidade. Com certeza existem mais grupos nas periferias e no interior do que no eixo benfica-centro-praia de Iracema-aldeota. Sendo assim, não parece coerente que, apenas uma minoria de nós esteja tendo acesso a recursos públicos.
Isso demarca uma desigualdade social e demonstra que o recurso não está sendo dividido de forma igualitária.Recursos públicos para a cultura seguem se concentrando em apenas alguns bairros da cidade, o que significa que outras localidades mais vulneráveis não estão sendo atendidas.
NÃO ESTAMOS TODOS EM PÉ DE IGUALDADE!
Definitivamente é preciso que o setor cultural tenha o entendimento que não somos todos iguais. O discurso de que todos podem ter acesso ao recurso público da cultura através do edital, em uma concorrência "justa" já está falido há muito tempo. Esse discurso é meritocrático e não dialoga com o senso de transparência e de distribuição democrática do recurso público.
TEMOS DIREITO A VIVER A CIDADE
COMO POSSO FORTALECE AS AÇÕES DE OUTROS ARTISTAS
NEGRES E PERIFÉRICOS?
Na reunião do Gt foram recordadas as questões da roda de aquilombamento, e apontadas as seguintes colocações:
-Somos incentivados a nos distanciar de nossos lugares de origem e a esquecer de onde viemos.
- è importância recuperar o amor ao nosso lugar e em nós mesmos.
Das presentes colocações foram retiradas os seguintes encaminhamentos:
Mobilização pela renda básica
educação como lugar de mudança
aquilombamentos possíveis no próprio território e com outros territórios
acessar e ocupar os equipamentos sócio culturais do território
micro-políticas
articular uma rede de artistas de territórios periféricos
Comentários