Algumas diretrizes que estão norteando os trabalhos da Casa desde o ano passado foram traçadas no Seminário de resistências.
Segue abaixo o relatório das discussões do Seminário:
Mesa 1: Afro centralidades, aquilombamento e combate ao racismo
Participaram da Mesa Liana Cavalcante com um relato sobre sua pesquisa apresentada como dissertação de mestrado para curso interdisciplinar em humanidades, “Cultura como Caminho de resistência” e o relato de Demetrius Vieira sobre sua pesquisa de criação “ORIKI:TEMPO” e sobre o processo de criação do projeto Maracati Nação Bons Ventos.
Debatemos sobre brincadeiras e suas relações com as questões raciais, bem como o lugar das brincadeiras na construção de papéis sociais. Refletimos sobre as brincadeiras infantis e a difusão do preconceito racial, em como algumas brincadeiras trazem em sí referenciais e estruturas racistas tais como o “capitão do mato agarra nega”, “pai Francisco” dentre outras.
Colocou-se como a brincadeira como funciona como uma prática de ensino do papel social a ser desenvolvido pela comunidade, como uma ferramenta condicionante. Compartilhamos relatos de infância sobre as brincadeiras infantis que vivenciamos, sobre os lugares de opressor e oprimido que representamos nas mesmas brincadeiras. Percebemos discursos de violência presente nas brincadeiras, inclusive em cantigas que revelam estruturas de opressão e como a ludicidade própria dos jogos e brinquedos cantados, presentes na cultura popular brasileira, foi moldada à partir de sua gênese, no período do Brasil-Colônia, para atuar como mecanismo de condicionamento do indivíduo, à partir de uma ótica classicista e racista, e como mecanismo de sofisticação dessa estrutura de opressão e exclusão social, até os dias atuais. Como brincar nossa ancestralidade? Como trazer a tona brincadeiras que empoderem?
Como inventar brinquedos que reverberam os valores que acreditamos?
Dialogamos como a ideia de aristocracia não foi superada nas capitais cearenses sobre as quais refletimos, no caso, Fortaleza e Aracati. E nós voltamos ao entendimento da importância do trabalho com comunidades periféricas e rurais que comunicam resistência da cosmovisão afro-indígena, ao passo que carregam práticas que preservam essas memórias ancestrais.
Conversamos sobre o bumba meu boi do Grande Pirambu como um prática afro-indígena, cujo elemento do boi carrega profundo significado, sobretudo dentro de uma ótica afro-centrada. Conversamos sobre como o bumba meu está presente na cidade de Fortaleza, enquanto brinquedo de negros e sobre a construção do Boi Canarinho, que está se encaminhando para nascer no próximo ciclo natalino. Dialogamos sobre a relevância de não negar a ancestralidade afro dessas brincadeiras tradicionais, tendo em vista que as mesmas surgem dentro de uma espiritualidade que é afro-indígena, sendo a negação dessa espiritualidade mais uma forma de invisibilizar, embranquecer e subjugar essas populações, sendo a construção do Boi Canarinho pensada na afirmação da ancestralidade afro e no respeito à identidade de gênero de seus brincantes.
Mesa 2:Reflexões sobre gênero, homoafetividades, opressão e empoderamento
Foram feitos os relatos de Hesse Santana, sobre sua experiência de auto-afirmação enquanto homem trans dentro de uma comunidade tradicional e o relato da pesquisa de Marcelo Freitas, concebida dentro grupo de estudos “Língua de Eros” do curso de letras da UFC, intitulada: “ A sacralidade do corpo e a vontade de Vida em Walt Whitman”. Conversamos sobre a concepção de masculinidade e heteronormatividade imposta em vários contextos sociais, sobre a importância de pessoas negras e trans relatarem com suas própria voz suas vivências e pesquisas sobre a realidade em que vivem. Discutimos sobre os lugares de fala de cada um e reafirmamos a necessidade de construir espaços afrocentrados, pautados sobretudo no respeito à dignidade da mulher, buscando a percepção de outras masculinidades possíveis, que não estejam influenciadas por sistemas de opressão impostos na sociedade.
Foram definidas para deliberações a criação dos seguintes GTs
1 - mulheres negras:
2 - transgeneridades e travestilidades:
3 - combate ao racismo e intolerância religiosa:
4 - famílias, comunidade e círculos sociais de pessoas LGBTs
Pontos levantados pelo GT 1 e 4
- Pessoas negras e LGBTS têm filhos e politicas para essa população devem também considerar suas famílias.
- Importância de pensar uma nova interação com literatura, numa perspectiva afro-referenciada para crianças, literaturas que comuniquem nossos valores, que abram reflexões sobre aquilo que acreditamos.
- Pensar politicas que possibilitem acesso a alimentação de qualidade para pessoas negras LGBTs em situação de vulnerabilidade social.
- Reflexões sobre o corpo da mulher negra, pensando em ações para mudança de paradigmas quanto a mercantilização do corpo negro e LGBT.
- Pensar na construção cotidiana de um feminismo negro, colocando a mulher negra no centro.
- Como pensar em estratégias para mudar essas estruturas sociais e como o movimento desse pequeno quilombo pode interferir na comunidade em que vivemos?
- Como ser porta voz das próprias histórias?
- Entender que o lugar da mulher negra é diferente da mulher branca.
- Não queremos mais mártires , queremos estar vivos
Questões levantadas pelo GT 2.
- Questões de gênero e violência ligadas ao uso dos banheiros
- Situações abusivas dentro da comunidade com relação a pessoas trans
- O que adoece uma pessoa trans? Reflexões a serem lançadas para pensar sobre adoecimento provocado pela sociedade.
Questões levantadas pelo GT 3.
- Expressar-se livremente na comunidade apesar da intolerância
- Buscar ações e politicas que se posicionam a respeito da perseguição, sobretudo provocadas por igrejas pentecostais em comunidades de periferia.
- Informar a população sobre as religiões de Axé, tendo em vista que o desconhecimento que gera preconceito.
- Afirmar que nosso trabalho é pautado nas raízes afro-indígenas
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